“A Samsung faz automóveis?
Como assim? Achava que ela só sabia fazer smartphones e TVs.”
Ledo engano caro leitor, a Samsung é um dos maiores conglomerados empresariais
do mundo, composto de aproximadamente 80 subsidiárias, atuando nos mais
variados setores de serviço e da indústria. Além de smartphones, televisões e
automóveis, ela também fabrica navios cargueiros, equipamentos militares, atua
no setor financeiro, no setor de seguros, na pesquisa de medicamentos, dentre
outros. Suas exportações correspondem a 28% do Produto Interno Bruto (PIB) da
Coréia do Sul. Como nem tudo são flores, o atual CEO e filho do fundador do
conglomerado, Lee Kun-hee, já foi condenado duas vezes por corrupção envolvendo
o governo coreano. Mas capaz de exercer influência no governo como poucos na Coréia do Sul, em
ambos os casos teve sua condenação perdoada pelos presidentes do país. Dado o
fato de que o conglomerado tem se aventurado na área de biotecnologia, não ficaríamos
surpresos com a criação de um T-Virus.
Afinal, estamos quase que diante de uma Umbrella
Corporation da vida real. Ok, tenho perdido muito tempo assistindo aos
filmes de Resident Evil, vamos falar
rapidamente da história da Samsung e de como ela se aventurou na área automotiva.
Em
1938, ainda durante a ocupação japonesa, Lee Byung-Chull, um integrante de uma
família que possuía grandes porções de terra na península coreana desde antes
da ocupação japonesa, fundou a Samsung, uma empresa que, primariamente, exportava frutas,
vegetais e peixes para a região da Manchúria e Beijing. No intervalo de alguns
anos, a Samsung já possuía moinhos, máquinas de confecção e operações de
manufatura e venda. Com o passar do tempo, o conglomerado passou a diversificar
sua área de atuação. Entre as décadas de 1950 e 1960, iniciou operações na área
de refinaria de açúcar, seguro de vida e equipamentos eletrônicos. E assim ela
continuou se expandindo, até os dias atuais.
Samsung em 1938 (foto: nytimes.com) |
Em
1987 o fundador Lee Byung-Chull veio a falecer. Quem o substituiu na liderança
do grupo foi seu terceiro filho, Lee Kun-Hee, que educado no Japão exatamente
com seu pai, demonstrou maior aptidão para seguir com os negócios da familia.
Lee, o indivíduo mais rico da Coreia do Sul e admirador de automóveis, acreditava que a Samsung teria vantagens
nessa indústria. Portanto, decidiu se aventurar no mercado de automóveis. Segundo alguns
executivos da Samsung, alguns conselheiros do próprio Lee eram contra a
entrada do grupo neste mercado. Mesmo assim, o presidente do grupo não levou em
consideração o conselho. Alguns protótipos foram construídos pela Samsung Heavy
Industries, como o Samsung SEV-III, o primeiro carro elétrico coreano e o
Samsung SVC-1, que mais parece um carrinho de golfe.
Samsung SEV-III (foto:/oldcar-korea.tistory.com) |
Samsung SVC-1 (foto:/oldcar-korea.tistory.com) |
Em 1994, a Samsung Heavy
Industries firmou um acordo de licenciamento e assistência técnica com a Nissan. No ano seguinte, foi criada a Samsung Motors Inc., uma subsidiária para
fabricar automóveis. O investimento de 120 milhões de dólares seria proveniente
de outras três empresas do grupo, sendo que a previsão inicial era começar a fabricar
os veículos no ano de 1998. Já prevendo uma atuação no mercado norte americano
a partir do ano 2000, a subsidiária recém-formada adquiriu um centro de design
automotivo em Huntington Beach, Califórnia. A iniciativa buscava seguir os
mesmos passos de outras fabricantes de veículos sul-coreanas em território
americano, como a Hyundai e a Kia.
No entanto, em 1997 a Samsung Motors Inc. descartou o plano inicial de entrar no mercado norte-americano na virada da década. Com a Crise Asiática, todo o mercado sul coreano sofreu um baque, principalmente no setor automotivo. Com a moeda local desvalorizada, o principal objetivo da indústria automobilística sul coreana passava a ser focada na exportação de seus produtos. O investimento de 1,8 bilhões de dólares da Samsung Motors em uma nova fábrica precisava de um grande volume de produção para dar lucro e, portanto, a previsão inicial era a de fabricar veículos para exportação em maior quantidade do que os destinados ao mercado interno. Foi neste cenário de retração do mercado automobilístico que a Samsung lançou seu primeiro carro, o Samsung SQ5, que nada mais era do que um Nissan Maxima de 1994 com algumas mudanças cosméticas. O argumento de venda era oferecer um automóvel com o mesmo preço dos concorrentes, mas dotado de uma maior quantidade de equipamentos.
No entanto, em 1997 a Samsung Motors Inc. descartou o plano inicial de entrar no mercado norte-americano na virada da década. Com a Crise Asiática, todo o mercado sul coreano sofreu um baque, principalmente no setor automotivo. Com a moeda local desvalorizada, o principal objetivo da indústria automobilística sul coreana passava a ser focada na exportação de seus produtos. O investimento de 1,8 bilhões de dólares da Samsung Motors em uma nova fábrica precisava de um grande volume de produção para dar lucro e, portanto, a previsão inicial era a de fabricar veículos para exportação em maior quantidade do que os destinados ao mercado interno. Foi neste cenário de retração do mercado automobilístico que a Samsung lançou seu primeiro carro, o Samsung SQ5, que nada mais era do que um Nissan Maxima de 1994 com algumas mudanças cosméticas. O argumento de venda era oferecer um automóvel com o mesmo preço dos concorrentes, mas dotado de uma maior quantidade de equipamentos.
Samsung SQ5 (foto: autowp.ru) |
Apesar
do bom número de unidades vendidas em seu ano de estreia no mercado, em 1999 a
Samsung vendeu pouco mais de 7 mil veículos. O investimento na fábrica de
automóveis não havia sido recuperado, pois a capacidade de produção era para
até 240 mil veículos. A dívida da subsidiária de automóveis acumulava o
montante de 4 bilhões de dólares, o que fez com que ela fosse colocada a venda
pelo conglomerado, como parte da manobra efetuada para reorganizar sua estrutura financeira. No
ano 2000, a Renault acabou comprando 70% das ações da Samsung Motors,
tornando-se a primeira fabricante europeia a atuar no restrito mercado de
automóveis sul-coreano. Mesmo assim, no acordo firmado entre as partes o nome
Samsung deveria continuar a ser usado nos automóveis. A Renault, no ano de 1999, havia formado uma aliança com a Nissan em escala global, uma vez que
a Nissan estava prestes a entrar em falência. É provável que as relações
construídas anteriormente entre a Samsung e a Nissan tenham facilitado as
negociações do grupo coreano com a aliança franco-japonesa.
Com
a montadora francesa sobre o controle da divisão de automóveis da Samsung, a
Samsung Motors transformou-se na Renault-Samsung Motors, agora uma subsidiária
do grupo francês. Processos de manufatura foram revistos, custos foram cortados
e um novo modelo foi lançado. O novo SM3 era baseado no Nissan Sunny, um parente de
plataforma do nosso conhecido carro de tiozão, o Nissan Sentra B15. O crescente
aumento na participação do mercado sul-coreano fez com que a Renault aumentasse
sua cota de ações na empresa para 80% posteriormente. No entanto, a renovação
dos produtos das concorrentes Hyundai, Kia e GM Korea fez com que a
Renault-Samsung perdesse participação no mercado a partir de 2011. Em 2013, a
montadora ocupava a última posição nas vendas dentre as marcas coreanas. Na
atual gama de modelos da Renault-Samsung, está o SM3, mais conhecido por aqui
como Renault Fluence. E você aí achando que nunca veria um carro da Samsung na
vida...
Samsung SM3 Neo (foto: autowp.ru) |
A
antiga Samsung Motors não teve oportunidade de progredir no mercado devido às fracas
vendas e ao momento inoportuno de lançamento de seu primeiro veículo durante
uma crise econômica. Caso tivesse a longevidade de suas concorrentes, poderia
ter dado continuidade à obtenção de experiência no segmento, passando a
produzir chassis com design próprio e posteriormente motores e suspensões
desenvolvidos internamente, fato observado na Hyundai Motor, a fabricante
sul-coreana que obteve o maior êxito dentro do segmento de automóveis.
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