sábado, 15 de novembro de 2014

A Samsung no segmento de automóveis



“A Samsung faz automóveis? Como assim? Achava que ela só sabia fazer smartphones e TVs.” Ledo engano caro leitor, a Samsung é um dos maiores conglomerados empresariais do mundo, composto de aproximadamente 80 subsidiárias, atuando nos mais variados setores de serviço e da indústria. Além de smartphones, televisões e automóveis, ela também fabrica navios cargueiros, equipamentos militares, atua no setor financeiro, no setor de seguros, na pesquisa de medicamentos, dentre outros. Suas exportações correspondem a 28% do Produto Interno Bruto (PIB) da Coréia do Sul. Como nem tudo são flores, o atual CEO e filho do fundador do conglomerado, Lee Kun-hee, já foi condenado duas vezes por corrupção envolvendo o governo coreano. Mas capaz de exercer influência no governo como poucos na Coréia do Sul, em ambos os casos teve sua condenação perdoada pelos presidentes do país. Dado o fato de que o conglomerado tem se aventurado na área de biotecnologia, não ficaríamos surpresos com a criação de um T-Virus. Afinal, estamos quase que diante de uma Umbrella Corporation da vida real. Ok, tenho perdido muito tempo assistindo aos filmes de Resident Evil, vamos falar rapidamente da história da Samsung e de como ela se aventurou na área automotiva.
Em 1938, ainda durante a ocupação japonesa, Lee Byung-Chull, um integrante de uma família que possuía grandes porções de terra na península coreana desde antes da ocupação japonesa, fundou a Samsung, uma empresa que, primariamente, exportava frutas, vegetais e peixes para a região da Manchúria e Beijing. No intervalo de alguns anos, a Samsung já possuía moinhos, máquinas de confecção e operações de manufatura e venda. Com o passar do tempo, o conglomerado passou a diversificar sua área de atuação. Entre as décadas de 1950 e 1960, iniciou operações na área de refinaria de açúcar, seguro de vida e equipamentos eletrônicos. E assim ela continuou se expandindo, até os dias atuais.
Samsung em 1938 (foto: nytimes.com)

Em 1987 o fundador Lee Byung-Chull veio a falecer. Quem o substituiu na liderança do grupo foi seu terceiro filho, Lee Kun-Hee, que educado no Japão exatamente com seu pai, demonstrou maior aptidão para seguir com os negócios da familia.
 
Lee Kun-Hee (foto: businessweek.com)
Lee, o indivíduo mais rico da Coreia do Sul e admirador de automóveis, acreditava que a Samsung teria vantagens nessa indústria. Portanto, decidiu se aventurar no mercado de automóveis. Segundo alguns executivos da Samsung, alguns conselheiros do próprio Lee eram contra a entrada do grupo neste mercado. Mesmo assim, o presidente do grupo não levou em consideração o conselho. Alguns protótipos foram construídos pela Samsung Heavy Industries, como o Samsung SEV-III, o primeiro carro elétrico coreano e o Samsung SVC-1, que mais parece um carrinho de golfe.
Samsung SEV-III (foto:/oldcar-korea.tistory.com)
Samsung SVC-1 (foto:/oldcar-korea.tistory.com)

Em 1994, a Samsung Heavy Industries firmou um acordo de licenciamento e assistência técnica com a Nissan. No ano seguinte, foi criada a Samsung Motors Inc., uma subsidiária para fabricar automóveis. O investimento de 120 milhões de dólares seria proveniente de outras três empresas do grupo, sendo que a previsão inicial era começar a fabricar os veículos no ano de 1998. Já prevendo uma atuação no mercado norte americano a partir do ano 2000, a subsidiária recém-formada adquiriu um centro de design automotivo em Huntington Beach, Califórnia. A iniciativa buscava seguir os mesmos passos de outras fabricantes de veículos sul-coreanas em território americano, como a Hyundai e a Kia.

No entanto, em 1997 a Samsung Motors Inc. descartou o plano inicial de entrar no mercado norte-americano na virada da década. Com a Crise Asiática, todo o mercado sul coreano sofreu um baque, principalmente no setor automotivo. Com a moeda local desvalorizada, o principal objetivo da indústria automobilística sul coreana passava a ser focada na exportação de seus produtos. O investimento de 1,8 bilhões de dólares da Samsung Motors em uma nova fábrica precisava de um grande volume de produção para dar lucro e, portanto, a previsão inicial era a de fabricar veículos para exportação em maior quantidade do que os destinados ao mercado interno. Foi neste cenário de retração do mercado automobilístico que a Samsung lançou seu primeiro carro, o Samsung SQ5, que nada mais era do que um Nissan Maxima de 1994 com algumas mudanças cosméticas. O argumento de venda era oferecer um automóvel com o mesmo preço dos concorrentes, mas dotado de uma maior quantidade de equipamentos.
Samsung SQ5 (foto: autowp.ru)


Apesar do bom número de unidades vendidas em seu ano de estreia no mercado, em 1999 a Samsung vendeu pouco mais de 7 mil veículos. O investimento na fábrica de automóveis não havia sido recuperado, pois a capacidade de produção era para até 240 mil veículos. A dívida da subsidiária de automóveis acumulava o montante de 4 bilhões de dólares, o que fez com que ela fosse colocada a venda pelo conglomerado, como parte da manobra efetuada para reorganizar sua estrutura financeira. No ano 2000, a Renault acabou comprando 70% das ações da Samsung Motors, tornando-se a primeira fabricante europeia a atuar no restrito mercado de automóveis sul-coreano. Mesmo assim, no acordo firmado entre as partes o nome Samsung deveria continuar a ser usado nos automóveis. A Renault, no ano de 1999, havia formado uma aliança com a Nissan em escala global, uma vez que a Nissan estava prestes a entrar em falência. É provável que as relações construídas anteriormente entre a Samsung e a Nissan tenham facilitado as negociações do grupo coreano com a aliança franco-japonesa.

Com a montadora francesa sobre o controle da divisão de automóveis da Samsung, a Samsung Motors transformou-se na Renault-Samsung Motors, agora uma subsidiária do grupo francês. Processos de manufatura foram revistos, custos foram cortados e um novo modelo foi lançado. O novo SM3 era baseado no Nissan Sunny, um parente de plataforma do nosso conhecido carro de tiozão, o Nissan Sentra B15. O crescente aumento na participação do mercado sul-coreano fez com que a Renault aumentasse sua cota de ações na empresa para 80% posteriormente. No entanto, a renovação dos produtos das concorrentes Hyundai, Kia e GM Korea fez com que a Renault-Samsung perdesse participação no mercado a partir de 2011. Em 2013, a montadora ocupava a última posição nas vendas dentre as marcas coreanas. Na atual gama de modelos da Renault-Samsung, está o SM3, mais conhecido por aqui como Renault Fluence. E você aí achando que nunca veria um carro da Samsung na vida...
Samsung SM3 Neo (foto: autowp.ru)


A antiga Samsung Motors não teve oportunidade de progredir no mercado devido às fracas vendas e ao momento inoportuno de lançamento de seu primeiro veículo durante uma crise econômica. Caso tivesse a longevidade de suas concorrentes, poderia ter dado continuidade à obtenção de experiência no segmento, passando a produzir chassis com design próprio e posteriormente motores e suspensões desenvolvidos internamente, fato observado na Hyundai Motor, a fabricante sul-coreana que obteve o maior êxito dentro do segmento de automóveis.

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