sábado, 22 de novembro de 2014

Daewoo Espero – O mais europeu dos coreanos





O Espero é o típico carro anônimo que costuma aparecer nas paisagens de filmes, séries e vídeos publicitários pois pouca gente sabe que modelo é, de onde veio e pra onde vai. Tanto o é que a Renault literalmente explodiu um exemplar do Espero como parte da campanha publicitária do lançamento do Renault Fluence em 2011. Ver um Espero largado em um ferro-velho ou pegando poeira em uma esquina é uma cena corriqueira. A principal alegação de sua desvalorização e consequente abandono foi a saída da Daewoo Motors do mercado brasileiro em 1999.


O Daewoo Espero foi lançado em setembro de 1990 na Coréia do Sul, primeiramente com o motor 2.0 CFI. Logo em seguida foi acrescentado à linha um motor 1.5  16v DOHC. Em alguns países de língua latina, também era conhecido como Daewoo Aranos.


Seu design havia sido desenhado pela Bertone, mesmo centro de design italiano que dois anos antes havia apresentado o Citroen XM, de linhas similares. Estranhamente, não há uma foto sequer do Espero no website da Bertone.

(foto: naver,com)

(foto: naver,com)


O coeficiente de arrasto aerodinâmico do desenho de linhas retas era de 0,29 cx, o mesmo do Opel Vectra A do qual compartilhava grande parte de seus componentes mecânicos. Sua plataforma, no entanto, não era nem a do Opel Ascona C, conhecido no Brasil como Chevrolet Monza, e nem a do Vectra A, mas a do Kadett E.

A suspensão era McPherson na frente e semi-independente no eixo traseiro. Vinha com freios a disco ventilados na dianteira. Na parte de trás os freios a disco eram opcionais e poderiam ser assistidos pelo ABS.


Os equipamentos oferecidos estavam dentro da média do segmento em 1990, mas faltava a opção do air-bag. Em compensação, nas versões mais completas o banco traseiro contava com descansa-braço central e para o motorista havia um maneiríssimo painel digital.


(foto: naver.com)

Detalhe do painel digital e do volante sem air-bag (foto: naver.com)



Em 1993 ocorreu uma leve reestilização, onde a mudança mais visível foi o desenho das lanternas traseiras. Na mecânica, as novidades ficavam por conta da adoção de novos motores 1.8 de oito válvulas e 2.0 oito válvulas com injeção eletrônica multiponto da série de motores Família II, da General Motors. E em termos de segurança, passou a ser oferecido o air-bag para o motorista.



Modelo 1990-1993 (foto: carlife.net)
Modelo pós-1993 (foto: autowp.ru)




No ano seguinte, a Daewoo fez sua estreia em solo brasileiro com o Espero, iniciando suas operações no dia 28 de março. Era representada pela DM Motors do Brasil e utilizando uma agressiva estratégia para atrair consumidores, dava a opção de devolver o dinheiro ao cliente após a devolução do carro em até 7 dias ou 1000 km rodados em caso de insatisfação. A garantia era de 2 anos ou 40.000 km rodados. 


O único motor disponível no Brasil para o Espero era o 2.0 MPFI. A potência declarada era de 110 cv a 5400 rpm e 17 kgmf a 2800 rpm. Este motor era basicamente o mesmo usado no Monza, Kadett e Vectra nacionais. No entanto, utilizava um sistema de injeção eletrônica diferente, uma unidade Delphi Multec IEFI-6, similar à Multec 700 utilizada nos Chevrolet Nacionais, mas que fazia uso de sensores como a sonda lambda (sensor de oxigênio) e sensor de detonação. Porém, como também utilizava o mesmo módulo de ignição eletrônica do Monza (HEI), o Espero igualmente estava sujeito aos mesmos defeitos.
 
Motor C20LE, 1998 cm³ MPFI (foto: drive.net)


Já a caixa de marchas automática de quatro velocidades era fabricada pela Aisin, enquanto a caixa de marchas manual utilizava exatamente as mesmas relações de marcha do Vectra A nacional. Portanto, equipado com pneus 185/65 R14 o Espero teoricamente viaja a 100 km/h com o motor a 2400 rpm. De acordo com o teste realizado pela revista Quatro Rodas em novembro de 1994, o Espero equipado com câmbio automático foi capaz de sair da imobilidade até os 100 km/h em 14,76 segundos. A velocidade máxima alcançada foi de 189,6 km/h.


O preço do Espero em 1995 era de em média 26 mil reais, o que o colocava numa faixa de preço um pouco mais baixa do que a do Vectra ou do Tempra. No entanto, em relação aos japoneses Civic e Corolla, o preço do Daewoo se mostrava bastante atraente. Desta forma, o Espero teve um breve momento de sucesso no mercado brasileiro, chegando a marcar presença no ranking dos dez importados mais vendidos do país por três meses seguidos em 1994 e por outros três meses em 1995.


Porém, desde seu lançamento, o Espero já apresentava um design datado, tanto na América Latina quanto na Europa, pois já haviam se passado quatro anos sem alterações profundas no seu design. Neste meio tempo, a concorrência foi evoluindo, o que coincidiu com uma queda nas vendas do modelo coreano.


Em 1995 foi apresentado no Seoul Motor Show o Daewoo DEV 2. Construído a partir de um Espero, a novidade do protótipo ficava por conta de sua propulsão elétrica. Com um motor de 86 kW, o DEV 2 era capaz de fazer o 0-100km/h em 13 segundos. As 22 baterias de chumbo-ácido eram capazes de garantir uma autonomia de 80km por carga.



Daewoo DEV 2 (foto:oldcar-korea.tistory.com)



Após mais algumas pequenas mudanças cosméticas para o ano de 1995, como a adoção de lentes complexas no farol, o Espero foi descontinuado em 1997, após 546.520 unidades produzidas, sendo que 236.882 foram destinadas ao mercado externo. Em seu lugar entrou o Daewoo Leganza, com um design e construção mais contemporâneos que o de seu antecessor.


Em 1997, uma crise financeira no mercado asiático colocou a situação de diversos conglomerados empresariais coreanos (os chaebols) em apuros. Para amenizar problemas de dívidas, diversas subsidiárias que se mostravam endividadas ou ineficientes foram postas à venda ou cessaram suas atividades. E dentre elas estava a Daewoo Motors, que foi vendida para a General Motors. Como parte do plano de reestruturação da companhia, a Daewoo deixou de atuar em alguns mercados como o Brasil. Imediatamente, todos os Daewoo rodando em solo nacional haviam se tornado micos de mercado.


Aos poucos, o Espero foi parando nas mãos de gente que não tinha (ou não tem) condições financeiras de manter o cronograma de manutenção estipulado pela marca. E em tempos de internet acessível apenas para uma pequena parcela da população, encontrar peças do Espero era tarefa das mais difíceis. Como resultado, muitos viraram sucata, enquanto outros rodam em situação precária. Podemos encontrar nos classificados modelos custando entre 3 mil e 9 mil reais, cuja variação de preço depende somente do estado de conservação do exemplar à venda.


Muito provavelmente, o Daewoo Espero é uma das maiores barganhas do mercado nacional de automóveis, pois oferece bastante conforto por um preço baixo, possuindo a mesma mecânica dos Chevrolet nacionais da mesma época. Com o advento da internet acessível, atualmente é bem mais fácil encontrar informações técnicas e peças sobressalentes sendo vendidas.


Ficou com vontade de adotar um Espero? Então siga as dicas a seguir caso o leitor seja uma pessoa corajosa (ou simplesmente estranha, como quem vos escreve). A dica numero um para ter um Daewoo Espero ou qualquer outro carro é de caráter universal: Faça você mesmo todos os serviços que estiverem a par de suas habilidades. A economia com mão-de-obra e a satisfação de ver algo funcionado graças à sua própria intervenção é extremamente gratificante. A dica numero dois também é de caráter universal: Caso sua habilidade com mecânica seja zero, tenha um mecânico de confiança. Se ele fizer pirraça por você ter levado a ele um carro coreano velho, vá preparado com as informações levantadas aqui. Afinal, por baixo da casca de design italiano e da aura de mico de mercado, há uma mistura de Monza e Vectra.


Dentre diversas fornecedoras de peças para a linha de montagem do Espero na Coréia do Sul, havia uma empresa brasileira chamada DHB componentes, que produzia componentes do sistema de direção. A boa notícia é que ela ainda existe e fabrica o terminal da direção (mesma do Monza/Kadett), pivô da direção (mesmo do Kadett) e reparo da bomba de direção hidráulica para o Espero.


Na internet é possível encontrar uma enorme lista de peças de veículos nacionais compatíveis com o Espero. Seguindo uma lógica, a maioria das peças descritas na lista são do motor, que exceto pelo sistema de gerenciamento do combustível, é o mesmo do Vectra e, portanto, seriam compatíveis. Mas devido à falta de comprovação empírica, fica ao critério do leitor procurar por esta lista ou não.

Quem quiser por a mão na massa, nada melhor do que as informações disponíveis em manuais do usuário, catálogos de peças e manuais de reparos. Os links a seguir foram testados, estão funcionando e não estão infectados com vírus. Portanto, não tenham medo do Espero e façam bom uso das informações!



- Manual de reparos em inglês + Manual do usuário em espanhol: http://adf.ly/TcAd7

- Diagrama elétrico em inglês: http://elektrotanya.com/daewoo_espero_aranos_electrical_wiring_diagram.pdf/download.html

- Catalogo de peças em espanhol: http://juanbarret.bligoo.es/manuales-daewoo-espero



Por fim, há o mito de que as peças de acabamento ou de lataria são impossíveis de achar, e quando encontradas, são caríssimas. Neste caso, Mercadolivre e OLX são seus melhores amigos nessas horas. Uma breve pesquisa somente no Mercadolivre mostra que um farol novo para o Espero pode ser encontrado pelo mesmo preço de um farol para o Vectra A ou para um do Monza. Da mesma forma, basta digitar qualquer peça do Espero no sistema de busca, que este te retornará diversos resultados. Ou seja, fazendo bom uso da internet, manter um Daewoo Espero não parece ser tão complicado assim. Afinal de contas é melhor andar de carro confortável, espaçoso, com manutenção barata e com indice de roubo de praticamente zero, do que andar de carro 1.0 pelado, apertado e visado por malfeitores né?